Delegado Eduardo Padilha. |
Por anos trabalhou para manter a
tal ordem em uma cidadezinha do interior. Fez bem mais que prender bêbados,
separar briga de casais ou dá uma coça nos ladrões de galinha. Tornou-se, por
opção, o inimigo número um do narcotráfico na região de fronteira. Perdeu a
conta de quantos traficantes colocou atrás das grades. Ele odiava o poder
destruidor das drogas e por isso dedicou a sua vida para combatê-la.
Andava sempre alerta e pronto
para uma emboscada dos malfeitores. Aliás, toda cidade temia pela vida do mais
popular delegado que resolveu decretar guerra aos perversos traficantes da região.
Na pequena delegacia da cidade,
em vez de delinquentes, eram os cidadãos de bem que passavam a maior parte do
dia conversando com o popular delegado. Idosos, autoridades, jovens e até
crianças costumavam sentar no velho banco de cimento incrustado na parede
lateral da velha delegacia para, simplesmente, papear com o homem da lei.
Tão popular, admirado, respeitado
e querido pelos moradores. Mas odiado pelos ceifadores de vidas que viam uma
pedra no meio do caminho que precisava ser removida a qualquer custo.
Quantas noites sem dormir,
sozinho na escuridão ele era os olhos dos que descansavam em paz. Ele ali, na
beira de um rio, ou embrenhado na mata, camuflado, disfarçado, a espreita
pronto para o bote certeiro.
De repente a notícia: mais um traficante preso pelo extraordinário delegado.
Alguém dizia: só pode ter pacto com
o capeta! Ele sempre acerta.
Mas não era o demo que cochichava
em seu ouvido denunciando onde estavam os facínoras. Eram noites sem dormir,
paciência sem fim e o desejo de erradicar um mal que ameaçava sua gente.
Homem de fé, diziam que tinha o
corpo fechado. Já com idade para gozar sua aposentadoria preferiu continuar
combatendo o crime. Mesmo com a chegada de delegado formado na universidade,
continuou sendo o preferido dos moradores. Não parou de trabalhar, não
importava se era delegado titular, subdelegado ou apenas agente de polícia.
Era, acima de tudo, o homem da lei.
A dor no coração foi tão forte como um tiro. Rápida,
certeira e repentina. Não teve como se defender, não servia a ajuda de sua
amiga inseparável que por anos andou colada ao seu corpo. A mão no peito, a
cabeça girando, os olhos ao apagar ainda contemplavam as lindas copas das
árvores. Os joelhos no chão tentam sustentar o corpo, a força que sempre serviu
em defesa de sua gente vai se indo lentamente.
O guerreiro sucumbiu. Não por mãos de homens, mas pela
vontade divina que o protegeu nessa missão de paz.
Foi o homem, ficou o mito Eduardo Padilha.
(Texto: Jerry Correia)