sexta-feira, 28 de julho de 2017

Imagens de nossa história

Posto de vendas da Superintendência da Borracha 
Assis Brasil/Acre 1983. (foto: acervo Jerry Correia)

O ciclo da borracha foi um momento da história econômica e social do Brasil, relacionado com a extração de látex da seringueira e comercialização da borracha. Teve o seu centro na região amazônica, e proporcionou expansão da colonização, atração de riqueza, transformações culturais e sociais, e grande impulso ao crescimento de Manaus, Porto Velho e Belém, até hoje capitais e maiores centros de seus respectivos estados, Amazonas, Rondônia e Pará. No mesmo período, foi criado o Território Federal do Acre, atual Estado do Acre, cuja área foi adquirida da Bolívia, por meio da compra no valor de 2 milhões de libras esterlinas, em 1903. O ciclo da borracha viveu seu auge entre 1879 e 1912, tendo depois experimentado uma sobrevida entre 1942 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Quando o Bela Vista ficou embaixo d'água


Fevereiro de 2012. As águas do Rio Acre transbordaram e atingiram boa parte da cidade de Assis Brasil. O bairro mais afetado foi o Bela Vista onde quase 200 famílias foram expulsas de suas casas pela cheia histórica.




terça-feira, 25 de julho de 2017

Juarez e o Boi Mimoso


Lá vem Juarez e o Boi Mimoso desfilando pela avenida
A carroça tá pesada, mas o Mimoso é cheio de vida.

A areia vem de graça das praias do velho Rio
Foi Deus quem abençoou esse bem que nos serviu.

O sombreiro na cabeça e a muxinga preparada
Mimoso não apanha, é só pra fazer zuada.

Vai gritando Juarez e Mimoso obedecendo
Mais uma carrada de areia e uma casinha aparecendo.

Obrigado velho amigo Juarez pelo trabalho que prestou
Também ao Boi Mimoso por tantas carroças que puxou.


(Jerry Correia)

Saudosas lembranças

Chegada de Assis Brasil.



Desfile de 7 de setembro.

Soldado Joatan que participou da 2 Guerra Mundial.

Soldado Joatan.

Moradores da Vila Assis Brasil.

Desfile aniversário da cidade.

Construção da Ponte Binacional.

Professora Tereza Cristina.

Pioneiro João José do Bomfim.

Bar Selva de Pedras.

Travesia do Rio Acre.


Primeira fanfarra de Assis Brasil.

Antiga Praça José Guiomard dos Santos.


Antigo centro de Assis Brasil.


Avenida Raimundo Chaar.
Antigo restaurante Barriga Cheia.

Desfile de 7 de setembro.

Antiga marcenaria municipal.

Beneficiadora de madeira da prefeitura.

Antiga Biblioteca Astrogilda Bomfim Bezerra.


Superintendência da Borracha.


Time de futebol "Resto do Mundo".









domingo, 23 de julho de 2017

A Estrada da Vida



Não há uma estrada real para a felicidade, mas sim caminhos diferentes. Há quem seja feliz sem coisa nenhuma, enquanto outros são infelizes possuindo tudo.
Luigi Pirandello


Histórias e causos do Icuriã

Itaan Arruda

O que vai ser relatado aconteceu pelas bandas do Icuriã. Faz tempo, ó. Foi uma época esquisita. Dizem que a comunidade estava muito populosa. Gente demais. Era preciso organização. Tudo estava complicado: faltava água; esgoto passando na frente dos casebres; escola com professor semi-analfabeto; sem uma benzedeira decente para sarar feridas e aliviar encostos. Até um crime aconteceu, com promessa de revanche por parte da família do Pinté. Ninguém esperava por Governo que, até aquele momento, poucas vezes tinha aparecido por lá. Para espanto de alguns que ironizavam. “Aqui é tão espatifado que, mesmo sem Governo, a gente não consegue dar ordem às coisas”. Ao que alguém sentenciou. “Era preciso organização”, lembra um dos primeiros “governadores” do local, o líder Antônio Calça Curta em entrevista a uma jovem historiadora. “Era preciso fazer política”.
Mas, fazer política sem Governo, pra quê? Isso lá tem sentido? O governo estava ausente da Vila Icuriã. A essas indagações, Calça Curta respondia como quem honra o bigode que não tinha. “Eu quero cuidar desse povo”, prometia. “Ponho minha vida nisso”. De fato, Antônio Calça Curta melhorou a vida de muitos. Não de todos, que não está aqui se falando de um deus. Mas, a vida melhorou. Era fato.
Mandou buscar canos do quartel do Exército na Vila Assis Brasil e botou água limpa dentro; criou uma canalização para jogar esgoto longe das cabaceiras do rio. Até um boticário mandou trazer da capital.
“Pra evitar ‘barriga’ em menino novo”. Antônio Calça Curta conquistou o povo do Icuriã. Veio até um retratista da capital acompanhado de um doutor das letras para fazer reportagem esticada-elogio-sa no periódico oficial. Era um novo fenômeno: moço, bem apessoado, sorriso fácil, trato gentil. Mas, contrariasse o diabo do homem que os beiços vinham pelas canelas. Era um lundum horrível. “Eu tinha que ser daquele jeito”, recorda Calça Curta, agora já velho. “Se não fosse do meu jeito, seria do jeito de quem? Ali na vila, depois de mim só tinha bicho e mato. Alguém tinha que decidir as coisas. E eu decidi que tinha que ser eu”, disse, quase em tom de saudade.
Com a popularidade de Calça Curta em alta, uma esquisitice começou a acontecer na região. De repente, os desafetos naturais que um homem opinioso constrói ao longo da vida desapareceram. Tudo no vilarejo passou a ter uma tranquilidade incomum. O “governador” da Vila Icuriã passou a contar com uma cordialidade consensual. Não havia embate.
A política praticada por Calça Curta era a política do consenso. Tudo tinha que ser por consenso. Ou era unanimidade, ou não valia. De uma hora para outra, a Vila do Icuriã ficou conhecida como a “referência regional”. A Vila era “modelo para isso”; “modelo praquilo”. Calça Curta se justifica para a estudante. “Mas, minha filha, não éramos nós quem falávamos. Eram os homens do governo que a partir daquele momento, não saiam de lá”.
De alegria em alegria, a Vila Icuriã foi definhando. Descobriu-se que as mudanças implantadas por Calça Curta endividaram de tal monta a comunidade que não havia dinheiro que pagasse. Muita gente começou a fugir subindo os descendo o rio. Em menos de um mês, quase a Vila se transforma em um lugar fantasma. Uma tristeza medonha se enraizou. Só Calça Curta ficou por lá. Buscou guarita em Assis Brasil depois que um grupo de peruanos saqueou o que restava de valor. Orgulhoso, Calça Curta deu um muxoxo subindo o barranco. “Gente ingrata. Não sabe reconhecer quem sempre deu a vida por esse lugar”.

Povo Jaminawá


Texto: Fátima Ferreira - Fotos: Jerry Correia
Na região do médio rio Ucayali, no Peru, habitavam vários grupos da família lingüística Pano. Lá estavam os Xixinawá (gente do quati), Kununawá (gente da orelha-de-pau), Sharanawá, Yawanawá (gente do queixada), Mastanawá (gente do socado), Bashonawa (gente da mucura), Sharanawá (gente povo bom) e Yawanawá (gente do queixada). Esses grupos, que eram conhecidos como grandes guerreiros, realizavam expedições para guerrearem entre si e com outros grupos da região.


Com a chegada dos caucheiros peruanos tiveram o primeiro contato com a sociedade branca, obrigando a formarem um só grupo com a denominação de Jaminawá, e assim dificultando ou mesmo em alguns momentos tornando impossível a convivência, pois as diferenças eram grandes, deixando uma característica marcante que é a divergência interna. Com a circulação de ferramentas de metal, as redes interétnicas de intercambio e a provável disseminação de vírus como o da varíola, provocando epidemias, levaram à morte inúmeras pessoas e até mesmo povos.


Com toda essa pressão o povo Jaminawá foi empurrado para o Juruá, alguns se engajando nas atividades de caucheiro e outros fugindo do contato, onde mais tarde realizaram uma enorme migração para o Moa (o não afluente do Juruá), mas um outro menor, do rio Yaco e outra entre os rios Yaco, Purus e Tahuamanu.



De lá um grupo de mais de cem Jaminawá debilitados por repetidas epidemias se instala no seringal Petrópolis. Informes da FUNAI descrevem uma situação de desorganização do grupo e exploração econômica. É estabelecido nesse ano um posto indígena, quebrando o monopólio do seringal. Com esse apoio, os Jaminawá se instalam rio acima, na área Mamoadate, que congrega duas aldeias Jaminawá (Betel e Jatobá) e uma Manchineri (Extrema). 


Primeiramente recrutados para trabalhar em seringais sob domínio do patrão Estevão Meirelles, e mais tarde tornando-se caçadores para o comércio de pele de animais silvestres, já com o patrão Cariolano. Trabalharam ainda de mateiros florestais, servindo aos patrões nas aberturas de estradas de seringa e varadouros de escoamento de produtos e também como extratores de seringa e caucho. Sempre mantiveram a agricultura de subsistência, servindo até de mão-de-obra nos grandes roçados dos patrões. Exerciam também a função de remadores e varejadores nos barcos dos senhores dos barracões.


Anos depois mudaram para o seringal Senegal, de onde saíram para a cabeceira do rio Acre, onde já se encontrava morando um grupo de Jaminawá, na época liderado por José Correia, formando a aldeia Ananaia, que se tornou a principal daquela terra indígena.


Essa perambulação deixa claro uma característica marcante desse povo, que é o seminomadismo, revelado nas freqüentes mudanças, e as dispersões de famílias, quase sempre motivadas pelas divergências internas.

No verão, época das praias, costumam realizar passeios para visitarem seus parentes distantes, sem pressa de retornar. Conta-se também o fator cultural, quando da morte de um membro da família nuclear mudam-se a fim de afastar as lembranças do falecido.


A liderança antigamente era um grande caçador, provedor incomum, que tinha o dom da oratória, mantinha várias mulheres, além de ter o poder da persuasão na comunidade, mediando conflitos internos e externos e não temendo forças ocultas. Para isso conhecia as regras de sua tradição. Também não temia tomar o shori (ayahuaska), que para eles é um remédio. Acreditam que tomar shori traz saúde ao corpo, mas podem também aplicar o bagaço do cipó sob as partes doentes do corpo. O shori também tem um lado lúdico, que permite ver ou viajar. Essas sessões são organizadas pelo koshuit (pajé), uma espécie de doutor, que detém o poder sobre a vida.

A economia é baseada principalmente no cultivo da macaxeira e banana, na caça e na pesca. Cada família nuclear possui seu roçado, se tornando economicamente autônoma, mas não exclui relações de reciprocidade entre as unidades familiares, pois a carne e o peixe são distribuídos para toda a comunidade.


A cultura material passa por uma revitalização, onde a cerâmica, a tecelagem e a cestaria têm sido os artesanatos mais enfatizados. A arte oral e musical Jaminawá é muito rica, com belos cantos xamânicos conhecidos por poucos. Homens e mulheres têm seus cantos, que descrevem os sentimentos do autor e as peripécias de sua vida.

Desde de 1990, o povo Jaminawá vem passando por um estado de crise. Um fator complexo de difícil explicação até mesmo para os próprios Jaminawá, resultando na vinda de famílias inteiras para as periferias das cidades, principalmente da capital. A realidade da cidade logo se apresenta como uma competição diária para garantir a sobrevivência, fazendo com que passem a viver um tempo diferente e difícil. 


Atualmente rumam em direção a uma reestruturação social, política e cultural, processo desencadeado pela necessidade de fazer uma reflexão sobre sua situação. Na assembléia realizada em meados no ano de 2001, reuniram-se todas as comunidades Jaminawá, resultando na criação da Organização das Comunidades Agro-Extrativistas Jaminawá (OCAEJ).


sexta-feira, 21 de julho de 2017

A estradinha e a passarela


Saindo da cidadezinha de Iñapari no Peru, logo depois de cruzar a Ponte Binacional, bastava seguir à direita, descer sobre a linda passarela (ou ponte suspensa) e continuar uma prazerosa caminhada em uma estradinha de tijolos com dois metros de largura. Pronto, chegava em Assis Brasil. Isso mesmo, chegava...não chega mais; pelo menos por aquele caminho que foi esquecido.

sábado, 11 de março de 2017

A primeira ponte

Hoje Assis Brasil tem uma das mais imponentes pontes do Estado do Acre. É a Ponte Binacional Brasil-Peru, inaugurada em 2006 pelo presidente Lula. A obra custou quase 30 milhões de reais e concretizou o sonho de integração física com o país vizinho Peru.

Mas antes disso a primeira ponte que ligava as cidade de Assis Brasil e Iñapari (PE) era essa mostrada na imagem acima. A estrutura improvisada só durava os meses de verão, quando o Rio Acre fica bem seco.

A primeira metade da ponte era uma velha balsa de metal de propriedade da Prefeitura de Assis Brasil. A outra metade era construida com madeira da região.

Tudo improvisado, mas serviu pra muita gente e ajudou manter os laços de amizade entre brasileiros e peruanos.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Nosso velho fogão a lenha



Na casa dos meus avós tinha um velho fogão a lenha. Ocupava quase toda a cozinha e o fogo praticamente nunca apagava.

Naquela época gás era artigo de luxo e poucos dispunham dessa regalia na pequena vila Assis Brasil.

De madruga o primeiro serviço do vovô era acender o fogo com gravetos e sernambi. Nessa hora a vovó já estava com a goma pronta para fazer as mais saborosas tapiocas da cidade.

O fogão a lenha também servia para esquentar o frio da garotada em dias de friagem. Todo mundo ao redor do fogão com as mãos estendidas em direção ao fogo. Ficávamos todos quentinhos e defumados.

Um dia o fogo apagou. O fogão deixou de existir. Vovó e vovô também tiveram que partir.

Agora o fogo do fogão só arde em meu coração.

O legado de um grande homem

Eunício Pereira Lima. Vereador por quatro mandatos em Assis Brasil-Acre. Homem simples, amigo e prestador à toda comunidade, sobretudo os mais humildes e necessitados.

Deixou seu nome grafado na história como esposo exemplar, pai amoroso e cidadão de conduta ilibada.

Como homem público foi exemplo de honestidade. Nunca se deixou contaminar com nenhuma prática corrupta e sempre pautou sua vida com ética e transparência.

Enfrentou o câncer de cabeça erguida. Batalhou com todas as forças até o último suspiro.

Que as novas gerações da pequena Assis Brasil conheçam o legado de EUNÍCIO PEREIRA LIMA e inspirem-se nesse grande exemplo de CIDADÃO.

A lenda do futebol amador de Assis Brasil

Cascata Futebol Clube. Esse foi o time de futebol mais querido e tradicional de Assis Brasil. Lamentavelmente encerrou suas atividades há alguns anos. Que a história inspire as novas gerações e essa grande equipe volte aos gramados.

Um dia histórico


10  de de outubro de 2010. Uma data que entrou para a história da pequena cidade de Assis Brasil. Naquele dia foram diplomados os primeiros universitários da cidade que concluíram suas licenciaturas no próprio município.

Um sonho antigo de dezenas de professores que foi possível graças a boa política do Governo do Estado e Universidade Federal do Acre.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Não há de quê!




Veio me cumprimentar de cabeça baixa. Estendeu as mãos sem olhar nos meus olhos. Falou com voz tímida como se tentasse esconder algo vergonhoso.
Aparentava ter não mais que quarenta anos. As mãos calejadas denunciavam a vida dura de quem vive do que a terra dá. 
Ainda de cabeça baixa me chamou pelo nome e pediu um favor.
- Desculpa!  Disse desconfiado como se tivesse feito algo de errado.
- Pode me fazer um favor? Perguntou com ar de desconfiança.
-Sim amigo! Em que posso ajudar? Respondi.
O homem puxou um papel do bolso da velha calça desbotada.
- É que não sei ler. Revelou-me como se tivesse confessando um crime horrível.
Peguei o papel. Li em voz baixa. Depois levantei a vista e vi que estava ansioso. 
Estendi a mão para lhe entregar o papel e disse:
- A conta vence hoje. Você pode pagar na lotérica aí dentro do mercado. 
- Obrigado! Agradeceu com postura de inferioridade.
Antes de voltar para o mercado e entrar na fila da lotérica, o homem fez questão de justificar sua condição.
- Sou filho de seringueiro. Moro na colocação Xapuri no Seringal Icuriã. Meu pai não me deixou estudar porque eu tinha que cortar seringa pra sustentar a família.
Já caminhando em direção à fila do caixa, o homem me chamou a atenção e disse orgulhoso:
- Meus cinco meninos estão todos na escola.

(Jerry Correia).