Francisco Chagas Velozo nasceu no município de Assis Brasil, Estado do Acre, no dia 20 de março de 1920, apenas dois anos após o fim da Primeira Guerra Mundial. Filho de dona Francisca Rosa e do senhor Manoel Bandeira viveu boa parte de sua vida no Seringal São Pedro. Foi ali que aprendeu o ofício de seringueiro com apenas 12 anos de idade. E foi um dos melhores da época, premiado pelo patrão com uma espingarda nova por ter produzido mais de mil quilos de borracha em apenas um ano.
Nessa época Assis Brasil ainda era o Seringal Paraguaçu e estava bem longe de ser elevado à categoria de município, o que aconteceu somente em 14 de maio de 1976 através da Lei Estadual 588. Nosso personagem foi testemunha ocular de toda a história política e administrativa do município de Assis Brasil, desde quando era seringal até os dias de hoje.
Seu Chaga Paulino, como é conhecido em Assis Brasil, foi um dos desbravadores da famosa colocação Pedreira onde viveu grande parte da sua vida. Fazia de tudo um pouco. Foi serrador, quando nem se ouvia falar de motosserra, apenas as antigas serras manuais que exigiam perícia e muita força nos braços. Trabalhou também na coleta de castanha em território boliviano. Em uma ocasião, quando coletava os ouriços de castanha na floresta, foi picado por uma cobra venenosa. Sua reação foi de indiferença e não procurou nenhum tratamento para combater o veneno. Não precisa nem dizer o que aconteceu, já que ele está hoje nos contando a história.
Chaga Paulino também foi barqueiro e viajou muito pelas águas do Rio Acre. O detalhe é que naquela época quase não existia motor de rabeta para navegação. Então, tudo era feito na força bruta mesmo, usando remo ou “varejão” para empurrar a canoa rio acima, rio abaixo.
Chaga Paulino também era “bom de pernas”. Já caminhou várias vezes de Assis Brasil até o município de Brasiléia. Isso bem antes de existir estrada, somente varadouros que ligavam um seringal a outro.
Hoje, com um século de vida, seu Chaga Paulino continua morando em Assis Brasil na companhia de uma sobrinha. Por opção, nunca quis saber de casamento e também não gerou filhos. Sua família, no entanto, é bem numerosa e uma das mais tradicionais de Assis Brasil.
Sua atividade preferida é manusear sua velha enxada para limpar os arredores da casa e as laterais da rua onde mora. Esse é o ritual que ele faz todos os dias com muito prazer e alegria. E quando não o faz, por conta daqueles dias chuvosos, fica até zangado.
A biografia desse ilustre morador de Assis Brasil ocuparia muitas páginas de um livro. Registramos aqui um pouco da sua trajetória que merece ser contada para as futuras gerações.