Aos 17 anos de idade, o jovem José
Gustavo Sales arruma sua mala e se despede do seu velho pai. A mãe já falecida
seria contra a decisão do rapaz de sair de seu ninho com destino a um lugar
desconhecido. Nem a dor no peito ou as lágrimas nos olhos o fazem desistir do
objetivo que fora traçado. Ele está certo que precisa deixar seu lugar, sua
gente e suas raízes para tentar a sorte por outras bandas.
De cima do pau de arara ele
contempla o que vai ficando para trás. A casinha humilde onde viveu parte de
sua vida com a família, os amigos e conhecidos da pequena cidade chamada
Meruoca no estado do Ceará.
Agora o garoto estava sob os
cuidados de um homem desconhecido responsável por levar trabalhadores do
nordeste brasileiro para a região amazônica. Fato comum naquela época em que
grande contingente de nordestinos fugia da fome e da seca que castigavam aquele
pedaço do Brasil.
O destino do rapaz foi o estado
do Acre, mais precisamente na região do Rio Envira onde teve que aprender o
ofício de seringueiro. Naquela região teve seu primeiro contato com os segredos
e perigos da floresta amazônica. Foi ali também que conheceu uma linda jovem
chamada Maria Matias que seria sua companheira por toda a vida e mãe de seus
sete filhos.
José Gustavo decidiu sair do lugar
onde estava e partir para outra região do estado. Mudou-se com sua família para
outro seringal na região do Rio Purus, município de Sena Madureira. Ali trabalhou
por anos na tentativa de juntar algum dinheiro para comprar seu próprio lugar. Mas,
isso era praticamente impossível, pois as condições impostas pelos
seringalistas eram de total exploração.
Mais uma vez foi obrigado a
procurar outro lugar para viver. Agora viaja com sua família subindo o Rio Iaco
na direção do famoso Seringal Petrópolis. Ali se estabelece em uma colocação onde
começa a explorar as seringueiras espalhadas pela imensidão da floresta amazônica.
O Seringal Petrópolis era também
uma grande fazenda com milhares de cabeças de gado. O lugar era muito afamado e
já tinha uma pequena vila com algumas dezenas de famílias. Mas toda essa
prosperidade não alcançou José Gustavo e sua família que sofreram muito
enquanto viveram naquele lugar.
A exploração e as precárias condições
de vida fizeram com que José Gustavo deixasse o Seringal Petrópolis. Agora ele
e sua família conseguem uma colocação no Seringal São Francisco, no município
de Assis Brasil. Ali trabalha por alguns anos e ganha experiência nos negócios
que envolviam o mercado da borracha.
Decidido a não ser mais explorado
por patrão, José Gustavo consegue arrendar o Seringal São Miguel, localizado às
margens do Rio Acre nas proximidades do município Assis Brasil. Com essa
oportunidade, o agora seringalista, consegue fazer bons negócios e juntar algum
recurso para iniciar uma nova etapa em sua vida.
No ano de 1978, muda-se para a
cidade de Assis Brasil com toda sua família. Consegue um ponto comercial no
mercado da cidade onde começa a vender roupas e tecidos. Foi aí que descobriu
sua verdadeira paixão pelo pequeno comércio varejista.
Os negócios prosperam e José
Gustavo agora consegue comprar um ponto comercial ao lado do mercado onde
trabalhava. O lugar fora vendido na época pelo senhor Vicente Bessa, grande
seringalista e primeiro prefeito do município de Assis Brasil.
O tempo passou e o senhor José Gustavo
tornou-se um dos principais comerciantes da cidade. Hoje, aos 90 anos de idade, acredite, ele
ainda está atrás de um balcão atendendo seus clientes todos os dias. E isso ele
faz por puro prazer, já que aquele pequeno ponto que comprou e onde trabalhou
por anos, hoje é um próspero mercado administrado por um de seus filhos. Mesmo assim,
seu José Gustavo resolveu montar uma pequena venda colada ao mercado da família
só pelo prazer de trabalhar naquilo que gosta.
Com toda essa idade, José Gustavo
continua acordando bem cedo para abrir as portas de sua loja. O lucro que busca
todos os dias é receber os amigos, vender um geladinho para uma criança que sai
sorrindo e continuar servindo o povo de Assis Brasil, assim como fez ao longo
desses mais de 40 anos.
O senhor José Gustavo ainda tem
um sonho. Ele diz que pede a Deus todos os dias que permita ele trabalhar até
os 100 anos. Quer seguir o destino de seu avô que trabalhou até essa idade com
muita alegria.
O futuro a Deus pertence. Mas se
depender do senhor José Gustavo seu comércio continuará de portas abertas por
muitos anos. O que não falta é disposição, felicidade e prazer de viver.
(Jerry Correia)
Parabéns! Pela belíssima matéria. Me emocionei....esse cearense é gente boa demais! Quanto orgulho de ser filha desse exemplo!
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